Grandes aberturas possibilitam a interligação entre salas de almoço e salão de recepção Linguagem sinuosa e grandes vãos unificam espaços diferenciadosNo início de 2004, Elizabeth de Portzamparc venceu o concurso de idéias organizado pelo grupo francês Banque Populaire para reorganizar os espaços de recepção da diretoria e da presidência. Eles ocupam o décimo andar de edifício de frente para o rio Sena e próximo à torre Eiffel. São cinco salas de almoço, com diferentes dimensões, eventualmente utilizáveis em conjunto. A incorporação do terraço existente permitiu ampliar o espaço de recepção.A arquiteta decidiu não abrigar todo o programa em espaço único e divisível, uma vez que o pé-direito baixo poderia causar sensação desagradável nos usuários. Optou, então, por ambientes distintos para cada sala, mas projetados de maneira a permitir a integração.O hall de entrada, iluminado zenitalmente, conduz ao espaço central de recepção (com cerca de 140 metros quadrados), a partir do qual se tem acesso às cinco salas de almoço. Ali se destaca um grande painel azul sinuoso, concebido como elemento cenográfico. Iluminado pela claridade do terraço, o salão se beneficia ainda da luz difundida por uma das janelas voltadas para o Sena. O tapete de lã azul degradê, tecido artesanalmente e desenhado pela arquiteta, alude ao grupo financeiro.
Cada uma das salas tem identidade própria, expressa por formas e cores. A unidade entre elas é obtida com o uso dos mesmos materiais: assoalho de tábuas largas de carvalho, mesas de madeira, cadeiras e poltronas revestidas com tecidos quentes, paredes claras, iluminação suave e indireta, entre outros. Na sala maior, duas paredes curvas e inclinadas receberam revestimento de pintura termoplástica dourada opaca, e abrigam nichos de vidro jateado, guarnecidos de objetos de arte. As formas dão a impressão de aumentar o espaço, além de favorecer o conforto acústico.
As duas salas menores evocam o logotipo do banco, com degradês de azul acinzentado em uma e painel da mesma cor, em tom mais forte, na outra. O fechamento é feito por um jogo de paredes acústicas, móveis e lisas, pintadas de branco, sem nenhuma articulação aparente, e que, acionadas eletricamente, deslizam sobre trilhos invisíveis presos ao teto, transformando os ambientes. Um pouco isolada, com paredes curvas revestidas de couro branco, a pequena sala de almoço da presidência recebeu tratamento contemporâneo especial. Dobras se desprendem das paredes, sublinhando as curvas; a menor delas transforma-se em aparador.
A estrutura metálica proposta para integrar o terraço à área de recepção dá continuidade à fachada do edifício. Ela fica presa ao teto, uma vez que o piso da varanda não suportaria seu peso e o do novo sistema mecânico para a limpeza das vidraças.
Para evitar a absorção de ruídos, a cobertura do terraço recebeu tratamento acústico especial e as paredes cegas foram recobertas por painéis microperfurados de carvalho, que possuem também função estética. O piso foi revestido por réguas de pedra bege opaca, com 20 centímetros de largura, tratadas e colocadas como o assoalho dos interiores. A mesma pedra foi colocada nos parapeitos das janelas e nas aberturas da fachada.
Elizabeth é autora dos projetos das cadeiras, poltronas, mesas moduláveis e carrinhos móveis para estocagem de mesas desmontáveis.
Texto resumido a partir de reportagem de Éride Moura
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 314 Abril de 2006